Lançado veículo
movido a hidrogênio que não polui, nem faz barulho, tecnologia 100% Nacional.
O futuro do transporte coletivo chega quase sem fazer barulho. No
lugar do motor à combustão, entra um silencioso conjunto de baterias,
carregado na tomada. Em vez de fumaça, o cano de descarga elimina vapor
d'água que, se condensado, poderia ser bebido normalmente.
Assim funciona o ônibus a hidrogênio, que será apresentado hoje pela
Coppe/UFRJ no Aterro do Flamengo - o primeiro a rodar no país. O invento
ganha as ruas no próximo semestre. E, embora tenha custo maior do que
os tradicionais veículos a diesel, espera-se que sua presença cresça
exponencialmente até a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas, dois anos
depois.
O preço do ônibus a hidrogênio é cinco vezes maior do que o dos
movidos a diesel, mas o investimento na nova frota prova-se mais barato
em cerca de três anos, segundo seus idealizadores. Ao contrário do
transporte já disponível, o novo modelo, com tecnologia 100% nacional,
tem aparato mecânico menor e custo irrisório de abastecimento.
O veículo, que não emite poluentes - um ganho e tanto em tempos de
aquecimento global e necessidade de redução de emissões de gases-estufa -
também gera uma economia significativa para o sistema de saúde pública.
Se toda a frota paulistana fosse substituída por ônibus a hidrogênio, a
cidade deixaria de desembolsar R$ 600 milhões com o tratamento de
doenças respiratórias.
Três fontes de energia disponíveis
O veículo, que tem autonomia para percorrer 300 quilômetros, usa três
fontes de eletricidade: conexão prévia à rede (feita por baterias
carregadas na tomada), pilha a combustível (alimentada com hidrogênio) e
energia produzida a bordo.
- Um ônibus a diesel desperdiça energia cinética produzida quando o
motorista freia ou não pisa no acelerador. No veículo a hidrogênio, ela
transforma-se em energia elétrica, armazenada em ultracapacitores -
explica Paulo Emílio de Miranda, coordenador do Laboratório de
Hidrogênio da Coppe.
Um condutor reúne essas fontes aos diferentes equipamentos do veículo
- ar condicionado, sistema de tração, acionamento de portas. A divisão
do espaço interno foi idealizada para que houvesse o menor gasto de
energia possível. Ainda assim, foi possível dar ao ônibus um aspecto
semelhante ao de seus antepassados a diesel. Dentro dele cabem 68
pessoas, sendo 27 sentadas. Há, também, rampa e uma área reservada para
deficientes físicos.
O ônibus começará, no mês que vem, a transportar alunos e professores
pela Cidade Universitária, onde foi construído. A Petrobras vai
instalar um posto de abastecimento na região, com cilindros que
armazenem hidrogênio gasoso.
Até o fim do ano, o veículo será incorporado à frota de uma empresa
de ônibus comercial, provavelmente cumprindo o trajeto entre os
aeroportos do Galeão e Santos Dumont.
Antes de produzir veículos semelhantes, a Coppe vai se dedicar à
fabricação de outros dois protótipos: um ônibus elétrico híbrido a
álcool e outro exclusivamente elétrico. Segundo Miranda, cada modelo tem
as suas vantagens.
- O veículo 100% elétrico não produz resíduo algum. Sequer tem cano
de descarga. Mas sua autonomia é a menor entre os três, e, por isso, ele
é apropriado para trajetos mais curtos - compara. - O híbrido a álcool
conta com uma infraestrutura instalada, que são os atuais postos de
abastecimento. Mas o ônibus de hidrogênio, que inauguramos agora, me
parece o mais sustentável, o que vai perdurar.
O projeto da Coppe junta-se a um seleto grupo, composto por cerca de
dez iniciativas no mundo (a maioria ainda em fase de protótipos),
visando ao desenvolvimento de ônibus movidos a hidrogênio. Estima-se que
tenham sido produzidos cerca de 50 veículos semelhantes ao que será
usado no Rio.
O ônibus contou com financiamento de empresas privadas, Petrobras e
Finep. Agora, a Coppe negocia investimentos para a construção de
pequenas frotas com a Federação das Empresas de Transportes de
Passageiros (Fetranspor), a prefeitura e o governo estadual.
- É uma grande demonstração de capacidade tecnológica e preocupação
ambiental do país - elogia Miranda. - A mudança da frota de ônibus
começará timidamente, mas, na Copa do Mundo, podemos ter um transporte
limpo, ao menos em alguns corredores urbanos.
(Renato Grandelle)
(O Globo, 26/5)